quarta-feira, 24 de junho de 2020

98º episódio - "60 anos chegou"

60 ANOS CHEGOU.

Parecia tão distante, mas chegou rapidinho.
Difícil esconder o medinho e os desconfortos que vem junto com o pacote da terceira idade, difícil não perceber os fios de cabelos clarinhos que vão despontando aqui e acolá, impossível não notar os remedinhos que começam cada vez mais ocupar lugar na prateleira, evidente ganhar aquele companheirinho inseparável do senhor óculos de grau que cada dia se torna mais exigente, e por fim,  inegável deixar de receber os presentinhos dos “ites e “oses, que vem dos joelhos e da coluna... e por aí vai... 
Mas prefiro ver e reforçar o outro lado. A certeza e a gratidão de que cheguei até aqui, e que estou aqui, para continuar a minha caminhada e desfrutar a paisagem da vida.
Buscar os benefícios e ¨sabores¨ dessa nova fase. Me sentir uma borboleta que renasce depois de tantas vivências.
Me olhar no espelho e gostar de mim, mesmo com as imperfeições naturais e inevitáveis do corpo físico, em descobrir os sentimentos lindos que acumulei com o tempo e traz a leveza indescritível da alma nas apreciações que antes eu nem percebia...
Saber que os meus olhos obviamente já têm o aspecto cansado, mas e daí, se ganhou em amplitude, em nitidez e alcance, e hoje eu posso dizer que tenho uma melhor visão do mundo...
Claro que não esqueci que houveram muitos tombos e que doeram bastante, mas pensar que  foram graças a eles  que aprendi a me levantar e a continuar em frente...

Liberar todos os espaços dentro de mim.

Desapegar do que tem peso, de vida e de alma. Armários cheios de coisas que nem uso mais e que fica acumulando saudades do que passou e não volta mais. Preencher o coração com lembranças boas e apagar tudo o que faz sofrer. Já foi.
Tantas coisas mudaram, o corpo, as circunstâncias, as ferramentas, mas sobretudo, as prioridades. A saúde é importante, o humor é importante, os amigos são importantes, o beijar na boca é importante, o andar descalço é importante, porque ser feliz no que te faz feliz é o mais importante!
Chegou a hora de virar a página. Novo tempo, nova fase e pensar no saldo de 60 anos e que faz de mim um livro de experiências e  conhecimentos, entre sorrisos e lágrimas, mas saber que neste baú tem muita estória para contar.
Respeitar o ciclo da vida, aceitar o tempo de cada um, viver um dia de cada vez.
E o melhor de tudo, estar viva para escrever esse texto e chegar aos 60, Com a graça de Deus!! E viva os 60!!


sexta-feira, 1 de maio de 2020

"97º episódio" Nada é por acaso



Marli. Ela sempre foi “diferentona” mas muito bonita. Sempre gostou de usar roupas apertadas denunciando um belo corpo feminino,  sapatos de salto alto e brincos grandes. Tinha um estilo impactante, que para algumas pessoas poderia ser entendido como vulgar, mas no fundo era apenas uma mulher, sendo ela mesma, com seu modo de ser, vivendo a vida do seu jeito.  Namorava bastante, gostava de “beijar” mas nunca se apegava a ninguém, sempre achou que os homens representassem uma temporada de prazer que, sempre e quando quisesse, poderia desfrutar, até porque, nunca se apaixonara de verdade por ninguém.
Mas não era mentirosa, nunca enganava a nenhum deles, sempre se fazia entender que só queria momentos. Ficava algum tempo com alguém e quando se cansava, saia de cena.
Com o tempo, porém, as suas experiências já não eram tão atraentes assim, vez por outra ela sentia um espécie de vazio, algo que procurava expulsar dentro de si e tratava de continuar a viver do jeito que sabia. Mas, com o tempo, algo em seu íntimo mudara,  aos 33 anos e com mais maturidade, começou a perceber que gostaria de ter uma família, dividir a vida com alguém, um homem bom, parceiro, que fizesse parte de sua vida, mas será que  era merecedora disso?.  Tinha feito tanta bobagem e pensava que dificilmente um homem a levaria a sério...  
Um dia, casualmente, entrou numa igreja, e sentou-se discretamente, quem sabe se sentiria melhor ouvindo a palavra de Deus. Sentiu-se renovada. O pastor disse uma frase que ela sentiu tocar seu coração. “A partir de hoje você é uma nova pessoa, e vai encontrar a verdadeira felicidade”. essas palavras ficaram gravadas em seu interior.
A partir desse dia começou a frequentar a igreja. Era um novo caminho que lhe fazia bem. Por outro lado, a vida seguiu seu curso e resolveu focar seus interesses em outras coisas. Como sempre teve vontade de viajar, começou a economizar para fazer um cruzeiro. Era um sonho acalentado há muitos anos e passou a colocar em prática. Pagou a passagem por um período de dois anos. Nessa altura já não era mais aquela mulher desajustada, sem princípios, de antes. A Marli  de outros tempos não existia mais. Sua vida agora era preenchida com as visitas à igreja,  o trabalho que exercia como treinadora  de ginastica, e mentalmente,  em evolução, os planos para a viagem que logo se tornaria realidade.
Esperava dia após dia com ansiedade natural. Seria lindo atravessar o oceano dentro de um navio cheio de novidades e encantos.
Até que, finalmente,  chegou o grande dia.
Com a passagem paga e já reservada há muito tempo, ela se aproximou do recepcionista bem vestido que conferia a documentação dos passageiros. Mas, quando chegou a sua vez, por alguns instantes, achou que não tinha ouvido direito quando ele disse: - Sra. o seu nome não consta  na lista de passageiros... Foi um choque, demorou alguns minutos para processar a informação e, quase sem poder respirar, com a fala tremendo, ela insistiu, e nervosa mostrou a passagem e o recibo com o carimbo da agência de viagem que confirmava  o pagamento. Mas não adiantava, o rapaz foi irredutível, lhe  disse que provavelmente fora um erro da companhia do navio, mas que, certamente ela iria averiguar tudo e poderia ter o ressarcimento do valor, mas, em nenhuma hipótese  ela poderia embarcar, segundo ele eram normas e regulamentos da companhia.
Ela embargou as lágrimas e saiu a passos apressados, sem mais olhar para trás e sem entender o que poderia ter acontecido. Procurou se acalmar e sentou se numa cafeteria mais adiante  onde ficou por alguns instantes, pensativa, remoendo a situação e pensando como era possível um sonho terminar assim. Por mais que queimasse os neurônios, não conseguia entender, pagou tudo certinho, encaminhou todos os documentos e fez o agendamento, tinha tudo protocolado. Não fazia sentido. Bem, não ia adiantar ficar ali, sofrendo pelo leite derramado,  teria que voltar para casa e depois trataria de resolver tudo com a agencia de viagens. Não tinha mais jeito.
Um pouco mais  tranquila, mais ainda com o coração apertado e triste pelo fato inesperado, seguiu de volta para  casa.
Mal acabou de entrar, ainda com a bagagem em mãos, o telefone tocou.
Era uma amiga de outros tempos, que estava desesperada, ela achava que o marido a estava traindo, e pedia a Marli que a ajudasse, pois queria esclarecer essa estória e não queria ir sozinha. Ela implorou a Marli que a acompanhasse ao clube onde supostamente estaria a amante. Estava visivelmente nervosa e Marli se achou numa situação complicada. Ela não frequentava mais esses lugares, hoje em dia ela somente ia à casa do Senhor e pensou como poderia enfrentar essa situação com a amiga. Também não seria aconselhável deixa-la ir sozinha naquele estado. Ela ainda tentou dissuadir a amiga, para que se acalmasse, poderia quem sabe estar enganada, talvez fosse perigoso fazer isto...  mas não adiantou de nada. A moça estava decidida a confrontar a situação e se Marli não fosse, então lhe disse que  iria sozinha.
Por fim, meio contrariada, pediu perdão a Deus, e se decidiu a ir, mas resolveu que tinha que acompanhar a amiga nesse momento difícil, e se deu conta que até esquecera dos acontecimentos do dia e de si mesma.
Procurou uma roupa adequada mas quase não tinha mais as roupas do passado. Finalmente encontrou uma calça justa já esquecida dos tempos em que frequentava esses lugares. Tratou de vestir-la  mas percebeu que não estava muito confortável, sentiu se quase uma  estranha pois sabia que chamaria atenção. Tinha uma silhueta atraente e a calça denunciava isto,  mas era o que servia para o ambiente. Pensou que, o que importava era que por dentro era uma outra pessoa.
Seguiram caminho até o clube noturno.
Quando chegaram a entrada, um homem  lhe deu um esbarrão acidentalmente  e lhe pediu desculpas, foi quando seus olhos se cruzaram e ela sentiu naquele momento que aquele olhar, mexeu estranhamente, com seus sentidos.  Mas desviou o olhar e entrou no salão procurando pela amiga que já  adentrara  para dentro procurando pelo marido.
E foi quando ela a avistou sorrindo e conversando com uma mulher. Se aproximou e ficou sabendo que a moça com quem a amiga trocava figurinhas era a mesma que ela havia visto no celular do marido, mas que era de uma empresa e estava contratando um serviço para o clube. Fora tudo um mal entendido, pelo menos a amiga acreditara nisso e a estória acabara bem. Tudo resolvido, decidiram voltar para casa, quando caminhava para a saída sentiu um toque em seu braço de alguém lhe tirando para dançar. Era ele. Não teve tempo de dizer não e se viu sendo quase arrastada para dentro da pista,  sob o olhar divertido da amiga.
Faz 15 anos essa história, e estão casados e felizes  até hoje.
Essa é a história de Marli, uma amiga maravilhosa e cheia de luz e que chama a atenção para um fato  que vale a pena refletir.
As vezes nossos caminhos são desviados de um propósito porque Deus nos reserva outras coisas para esta vida. Então, talvez seja difícil o entendimento naquele momento, mas um dia entenderemos o  porquê.

Acredite, nada é por acaso, o tempo lhe dará as respostas.










sábado, 4 de janeiro de 2020

" 96 episódio " - FÉ E SUPERAÇÃO


O nome dele é Roni.
Sua estória parece mesmo um filme de cinema,  mas é um filme da vida real. Com um enredo forte de superação e fé, vamos viajar numa estória de vida com muito sofrimento, mas também com muita fé.

Roni tina 30 anos, estava casado há seis anos e já formava sua família com um bebê de 4 anos. Estava no auge da juventude e vivendo as primeiras glórias de um bom emprego como representante de uma linha conceituada de perfumes importados. Por hora ainda estava trabalhando como associado autônomo, prestando serviços, mas tinha um bom salário e ajuda de custo, e como desempenhava muito bem seu trabalho e dava bom retorno de vendas para a empresa, estava para ser efetivado com um salário três vezes maior, o que certamente iria lhe garantir uma situação bem mais cômoda. Roni era muito focado no trabalho porque valorizava muito bens materiais e conforto.. 
Sentia-se feliz.
Ele usava como meio de transporte sua própria moto, o que lhe poupava tempo e economia.
Aí aconteceu a tragédia. Um dia qualquer, na ida para o trabalho, perdeu o controle da moto e se chocou violentamente contra um poste. Neste momento a vida lhe sentenciava com uma mudança de 90º. O cérebro processa tudo muito rápido: hospital, traumatismo, UTI, e o diagnóstico infinitamente desesperador: 70% de paraplegia. Seria um cadeirante, cheio de sequelas. Um quadro triste que limitaria seus movimentos por tempo indeterminado, talvez pelo resto da vida.
A sua vida virou do avesso. O seu mundo era outro agora, sua rotina era hospital, remédios, fisioterapias e muita dor. Muito desconforto, seu coração estava muito triste...
E agora? Morrer ou reagir mesmo tendo que enfrentar a vida assim? 
Mas ainda que os dias e as noites se arrastassem como sombras pesadas de sofrimento, desânimo e incertezas, ele  tinha um corpo jovem e forte,  uma fé enorme em seu coração, e principalmente sua família. Ingredientes fortes para não desistir da vida e continuar a batalha.  
8 meses depois a sua mulher foi embora, não aguentou as dificuldades e deixou o filho com o pai. Mesmo com tristeza Roni entendeu seu ponto de vista. Não era uma mulher forte e  não estava fácil para ela. Nem todo mundo é capaz de suportar  o peso de cuidar de um doente todos os dias.
Traçou mentalmente um panorama da sua vida.
Agora ele estava sem emprego, recebendo uma ajuda do governo de um salário mínimo (não tinha vínculos com a empresa), paraplégico com várias limitações e com um filho pequeno para criar.
Foi morar com a mãe. Sentia-se impotente, desconfortável na casa da mãe idosa, não queria dar este trabalho a ela, mas não tinha escolha, ele e  o filho precisavam de ajuda. Sabia que era a única forma de lutar para sair daquela situação. E acreditava que um dia a pudesse recompensar por tudo. Tinha fé.
E foi a luta. 
Fisioterapias. Nada muito de qualidade, porque dependia do serviço público. Mas se esforçou ao máximo, além disso dependia de pessoas para levá-lo. Sabia que  situação era humilhante, sentia seu coração apertado, lembrava da sua vida um ano trás e, escondido em seu quarto onde dormia com o filho, chorava sozinho e em silêncio  para que a mãe e o filho não ouvissem. Queria poupá-los da sua dor. Foram tempos muito difíceis.
Um dia conheceu Marina, era a nova fisioterapeuta, que iria substituir férias da titular. Desde o início sentiu-se muito bem com ela, a achava linda, encantadora. Mas óbvio que não podia ter ilusões com nenhuma mulher e manteve-se discreto e tímido. Seu lugar era o de paciente e não podia esquecer-se disso, mesmo que percebesse que Marina lhe dava uma atenção especial, conversava muito com ele, pensava que era apenas uma moça educada, que encontrara afinidades com seu jeito de ser. Além disso, ela tinha uma aliança de compromisso no dedo direito  e isso era esclarecedor.
Mas, por incrível que possa parecer, um dia, Marina tomou a iniciativa e sorrindo  he disse: – “Roni, sonhei com você esta noite. Sonhei que éramos namorados e caminhávamos de mãos dadas”. Aquela confissão lhe desarmou e sentiu-se acanhado, constrangido, mas ela continuou. – “Eu sou serva de Deus e Ele sempre me revela os fatos. Você vai voltar a andar". E ainda sorrindo levemente, ela completou: - E seremos namorados”. Ele demorou para perceber o quanto Marina falava sério, meio com alguma dúvida pensou que ela só poderia estar brincando.
Mas ela não estava. Marina continuou cuidando dele e lhe deu um ânimo absurdo. Ela o levou a sua igreja e passaram a ficar mais vezes juntos. Roni voltou a sorrir e tinha  muito mais força de vontade para lutar. Se antes ele queria voltar a ter os movimentos, agora era vital para ele.  Não sabia explicar muito bem porque, mas sabia que Marina tinha era elemento chave em sua vida.
As sessões eram árduas e dolorosas. Alternava entre dia sim, dia não, e voltava sempre muito cansado para casa.  Mas o resultado de todo o esforço começou a aparecer. Três meses depois ele já conseguia se levantar com a ajuda de muletas, seis meses depois já conseguia mover os braços, comer sozinho, e pegar algumas coisas...
Um ano depois ele já tinha forças para  caminhar com andador e se locomover.
Nossa! Quanta coisa aconteceu! Tudo fora muito triste e sofrido, mas foi por conta disso tudo que conheceu Marina e também a sua fé. Agora era um novo homem. Os bens materiais não eram mais somente  a sua meta na vida, tinha outros valores importantes, antes já adormecidos.
Por conta dessa dedicação a Roni, Marina rompeu com o noivo, mas ela não sentiu pesar por isso. Roni preenchia sua vida e ela sabia que a razão era porque estava apaixonada, tinha que admitir porque na verdade sempre esteve, desde que o conheceu. Então certamente era um propósito de Deus.
Finalmente assumiram o amor dos dois. Foram  morar juntos e tiveram uma filha. Roni conseguiu voltar a trabalhar parcialmente no que fazia, adequando as suas condições. 
Juntos, com  muito amor e parceria, compraram um apartamento e um carro adaptado, automático, porque Roni ainda tem limitações físicas na perna esquerda. Hoje leva uma vida praticamente normal e acha justo contribuir com uma ajuda mensal para a mãe que o ajudou tanto num momento difícil.
O casal mora com os dois filhos e são muito felizes.
Agora para completar a felicidade de ambos, só estão aguardando o divórcio legal de Roni para legalizarem a união.

São as tramas da vida que sugerem os desígnios de Deus. 
A vida de Roni só tem duas palavras para definir. FÉ E  SUPERAÇÃO.

Parabéns querido!. Você merece todas as bênçãos de Deus.















sábado, 28 de setembro de 2019

" 95 texto " - 60 anos

ELIZ DIA DO IDOSO 27/09 e 01/10

60 anos se aproxima...
Faltam 8 meses...
E olha que chega rapidinho.
Acho que já estou me preparando rs
Difícil esconder o medinho e os desconfortos que vem junto com o pacote da terceira idade, difícil não perceber os fios de cabelos clarinhos que vão despontando aqui e acolá, impossível não notar os remedinhos que começam cada vez mais ocupar lugar na prateleira, evidente ganhar aquele companheirinho inseparável do senhor óculos de grau que cada dia se torna mais exigente, e por fim é inegável deixar de receber os presentinhos dos “ites e “oses, que vem dos joelhos e da coluna... e por aí vai...
Mas, e o que tem de bom? Será que vale a pena lembrar somente dos tormentos? Eu prefiro ver e dar mais reforço para o outro lado. Quero ver o barato da terceira idade, conviver com os amigos dos “ crecks “, dar muitas risadas e sentar de graça na primeira fila das cadeiras dos ônibus de viagem.
Sacudir a poeira com muito humor nas baladas, tendo como acompanhante um bom vinho ou uma cervejinha gelada e dançar ao som do flasch back, que eu amo, para recordar os velhos tempos.
Me olhar no espelho e gostar de mim, mesmo com as imperfeições naturais e inevitáveis do corpo físico, em
descobrir os sentimentos lindos que acumulei com o tempo e traz a leveza indescritível da alma, nas apreciações que antes eu nem percebia...
Pensar no saldo de 60 anos e que faz de mim um livro de sabedoria, conhecimentos, experiência, entre sorrisos e lágrimas, mas saber que neste baú tem muita estória pra contar.
Saber que os meus olhos obviamente já têm o aspecto cansado, mas e daí, se ganhou em amplitude, em nitidez e alcance, e hoje eu posso dizer que tenho uma melhor visão do mundo...
Claro que não esqueci que houveram muitos tombos e que doeram bastante, mas se foram graças a eles foi que aprendi a me levantar e a continuar em frente...
Ter orgulho do que construí e aprendi, e se, não consegui, ainda poder renascer aos 60. Porque não? Se nunca houve limites e nem idade para sonhar..
Tantas coisas mudaram, o corpo, as circunstâncias, as ferramentas, mas sobretudo, as prioridades. A saúde é importante, o humor é importante, os amigos são importantes, o beijar na boca é importante, o andar descalço é importante, porque ser feliz é o mais importante!
Respeitar o ciclo da vida, aceitar o tempo de cada um, viver um dia de cada vez, sorvendo cada gota de alegria.
E o melhor de tudo, estar viva para escrever esse texto e chegar aos 60, Com a graça de Deus!! E viva os 60!! e se Deus quiser, os 70, os 80, os 90..... Ta bom né? Agora melhor descansar  rs


segunda-feira, 8 de julho de 2019

¨94° episódioº - Erro imperdoável

Foi apenas um olhar, casual e fugaz. Mas fora suficiente...
Quando desci do trem eu percebi que ele estava atrás de mim.
Resolvi parar porque era um local público cheio de pessoas e fiquei preocupada caso ele continuasse o passo, pois me ocorreu que apesar da boa aparência era um estranho e as ruas eram isoladas.
Ele quis me conhecer. Eu lhe disse que estava apressada pois estava indo para uma consulta. Na verdade, eu menti, pois já estava voltando para casa e como ainda era cedo, tinha todo o tempo do mundo... 
Mas eu estava ressabiada com os homens. Meu casamento não fora exatamente um mar de rosas...
Ele disse que seria breve e não me tomaria mais que alguns minutos. Eu o achei simpático, mas tinha um brilho no olhar profundo e enigmático...
Fiquei um pouco constrangida com aquele olhar penetrante, mas procurei não demonstrar e aceitei a sua companhia. Ele avistou um comerciante ambulante a poucos metros e perguntou se eu gostava de pipocas... Eu comecei a rir da pergunta porque não esperava por isso, nunca poderia imaginar que aquele homem me parasse para oferecer pipocas.
Entre surpresa e divertida eu disse que sim, e lá foi ele atrás de dois sacos grandes de pipocas coloridas que exalavam um aroma delicioso. E confesso que adorei.
Neste espaço também havia bancos onde resolvemos sentar para comer as pipocas e conversar. Na verdade, já havia passado muito mais tempo do que eu pretendia, mas a companhia dele  foi tão agradável que nem percebi o tempo passar.  
Seu nome era Dário, trabalhava com representação e comércio de alimentos, era divorciado, não tinha filhos e morava sozinho. Seu relato me pareceu convincente e nesta altura eu já me sentia tranquila e interessada. Conversamos um pouco mais e descobri que Dário era um apaixonado por música, seu gosto musical era o mesmo que eu, e gostei dessa afinidade.
Quando me dei conta já estávamos conversando há quase meia hora e me levantei para não cair em contradição. Precisava ir, embora meu coração nessa altura já pedisse para ficar eu mantive a decisão, e logo agradeci a companhia, a pipoca e me despedi. Neste momento ele se aproximou mais e me deu um beijo no rosto que eu tomei como uma gentileza.
Fui embora com a sensação da despedida e o pensamento desconfortável que talvez nunca mais voltasse a ver aquele homem.
Quando cheguei em casa ainda pensava nele, suspirei fundo e refleti que fora apenas um momento e que a investida dele fora apenas de gentileza, talvez quisesse conversar com alguém, pois se tivesse algum outro interesse por mim,  teria me dado ou solicitado um contato.
Procurei desviar estes pensamentos e resolvi pôr uma música e tomar um banho, assim ficaria mais relaxada e não pensaria mais nisso.
Eu vestia uma calça comprida com uma blusa de linho e uma jaqueta por cima. O clima estava de outono e como saí muito cedo resolvi vestir um abrigo. Joguei as roupas numa cadeira como fazia sempre que ia para o banho e algo me chamou atenção, um papel pequeno que caía do bolso da jaqueta. Me agachei para pegar e percebi que era um cartão,  de boa  qualidade, com um nome e telefone bem visíveis, Dário Emanuel...
Não sei exatamente porque, mas senti me feliz.  Algo me dizia que aquela história teria outros capítulos. Sorri...
Dois dias depois resolvi ligar, afinal de contas já poderia considerá-lo quase um amigo e além disso a parte dele já fora feita, cabia a mim agora tomar a atitude. Ele me atendeu prontamente e disse para minha satisfação pessoal que estava esperando a minha ligação.
A partir daí passamos a nos ver com frequência, Dário passou a frequentar minha casa e o nosso relacionamento fortalecia cada dia mais. Tudo era tão perfeito entre nós que eu tinha a sensação  que  vivia um sonho, e como toda mulher romântica, um sonho de amor, onde eu já podia enxergar dois travesseiros juntos. 
Algum tempo depois, nosso relacionamento já estava bem sério e ele comentou que  já era o momento para  eu conhecer sua família que moravam em outra cidade. Eu concordei pois queria muito conhecer meus futuros sogros e a irmã de Dário. Afinal de contas, muito provavelmente, logo eu estaria fazendo parte do grupo familiar e meu coração exultava de felicidade. 
Dário falava com muito carinho de todos, e casualmente, uma vez me disse que amava muito a irmã,  que  ela  estava atravessando um  probleminha particular, mas  confiava que tudo iria ficar bem. Não tocamos mais no assunto e eu arquivei esse comentário.
Certa ocasião eu comecei a perceber que Dário andava tenso. Há alguns dias se mantinha meio disperso, calado, e senti que havia algo errado. O que estaria acontecendo com ele?
Era estranho, tínhamos o hábito de falar tudo um para o outro.
Comecei a interroga-lo, mas ele resistia e não me contava. Usou como desculpa o trabalho, que andava cansado e precisava descansar. Os dias foram passando, Dário se mantinha do mesmo jeito e suas visitas já não traziam aquele sorriso que eu amava tanto. Ele estava diferente. Minhas anteninhas  do ciúme me diziam que algo estava acontecendo, mas algo que eu não atinava... Outra mulher? Talvez... Geralmente é o que acontece, mas ele sempre fora tão sincero... Não era o seu perfil esse tipo de coisa.
E além disso,  a nossa intimidade era a mesma. Tudo estava normal entre nós, não notava nada diferente. A mesma paixão, o mesmo desejo...
De qualquer forma  eu sempre soube, em conversas com amigos,  que há homens assim, mantém relacionamentos sexuais com outras mulheres sem nenhum problema e sem demonstrar nada para a  parceira.
Mas a semente foi plantada, e  cada vez mais tomando força em minha mente.
Os dias foram passando, mas com a mente em ebulição eu também já estava diferente, me sentia insegura e tinha a curiosidade em saber se ele tinha outra pessoa. Nessa altura nossa relação já não era mais a mesma...
Mas então porque não terminava nossa relação?. Não éramos casados ainda, não tínhamos filhos, compromissos podem ser desfeitos, se não havia nada que o prendesse a mim porque ele não se abria comigo?
Vinha habitualmente me ver, ligava todos os fins de tarde para saber se eu estava bem e perguntava como fora meu dia de trabalho, como sempre fazia.
Foi quando tive uma ideia, já que Dário não me falava o que estava acontecendo, resolvi que então eu iria descobrir, do meu jeito...
Passei a segui - lo.  Durante três dias não vi nada de estranho, no quarto dia ele parou o carro num estacionamento de um shopping. E uns vinte minutos depois ele saiu com um embrulho na mão. Meu coração batia descompassado, como se falasse: - Deve ser um presente para ela... Hoje saberei a verdade...
Segui o carro dele que tomava por uma estrada que eu não conhecia, quase 50 minutos depois ele entrava em outro estacionamento, mas dessa vez, estranhamente, era um estacionamento de  um hospital. Eu respirei fundo, mas com outra sensação, o que estava acontecendo?
Me parecia intrigante Dário se dirigir a um hospital carregando um embrulho, em suas mãos...
Por alguns instantes me ocorreu que estava sendo invasiva, que não deveria estar ali, mas minha curiosidade me dizia que agora já estava feito e que eu iria até o fim, afinal de contas ele não me disse o que estava acontecendo.
Esperei um tempo até que ele sumisse das minhas vistas e eu pudesse fazer algumas perguntas na portaria de entrada.
Quando cheguei à porta, percebi que era uma entrada de visitas para enfermos do setor de oncologia, mas entendi que eu não poderia entrar, pois não estava autorizada.
Resolvi voltar para o carro e ficar esperando. Ia confrontá-lo, ali mesmo, para que ele me contasse a verdade. Não podia mais recuar.
Algum tempo depois, que me pareceu uma eternidade, Dário saiu pela mesma porta, mas dessa vez não estava sozinho. Vinha acompanhando de uma moça, de cabelos longos e soltos, apenas  preso por um turbante,  bem bonita, alegre,  parecia atraente, com os braços apoiados em volta dos ombros dela, abraçando-a, com uma expressão que eu não consegui decifrar. Naquele momento, o poder do ciúme tomou conta de mim e não raciocinei mais, senti-me mal, e só tinha no pensamento a certeza de que ele estava me traindo, me enganando, covardemente... Minha mente fervilhava, os pensamentos confusos e  mil perguntas se confundiam em minha  mente...
Talvez aquela moça trabalhasse ali no hospital e ele veio busca- la.... Talvez fosse um amor antigo... Talvez fosse a sua ex, pelo que sabia ela tinha cabelos longos....
Talvez... Talvez... Minha mente ia explodir.
Não considerei mais nada, em minha cegueira alimentada pelo 
ciúme, eu só via o que eu achava ver, foi então que bati uma foto, eu precisava dessa prova. Ele não teria como desmentir que TINHA OUTRA MULHER, nunca mais ia querer saber desse homem.
Resolvi voltar pra casa. Não tinha mais nada a fazer ali, porém,  precisava sentar-me  um pouco  para me recompor e não fazer nenhuma bobagem.
Fiquei ali algum tempo, com a cabeça baixa apoiada entre as mãos, chorando, mas decidida a terminar tudo, se essa era a dificuldade dele, eu iria ajudá-lo. Não queria vê-lo mais. Eu ia pedir minhas férias no trabalho e fazer uma viagem, sair para longe, ordenar meus pensamentos, acalmar meu coração.
Quando cheguei em casa, ele já estava lá, encostado no sofá, com a televisão ligada, tranquilo, porém absorto, como sempre.
Não falei nada, apenas fui para o quarto e liguei a internet. Queria pesquisar algum lugar para viajar. Nesse momento Dário bateu a porta e perguntou se estava tudo bem. Eu disse que sim, apenas estava com dor de cabeça e queria ficar um pouco sozinha. Ele me disse então que iria embora, para que eu descansasse e respondi que sim, no dia seguinte nos veríamos.
Antes dele sair, tive o cuidado de pedir a ele que deixasse a cópia da chave do meu apto, alegando que a minha estava com defeito, e que eu iria fazer uma cópia. Tudo previamente calculado.
Procurei não demonstrar nada porque naquele momento não estava preparada para aquela conversa. Seria muito difícil para mim, e também não queria que ele me visse tão fragilizada.
Tirei a aliança do dedo e coloquei dentro de um envelope junto com a foto da prova aos cuidados dele e deixei com o porteiro. Já era um começo para libertar-me. Depois eu resolveria o restante desse assunto, Por ora,  eu só queria sair dali.
Mecanicamente, comecei a arrumar algumas roupas na bolsa de viagem, peguei algumas coisas de higiene, pus a mochila nas costas e saí. Comecei a caminhar e peguei um ônibus até a rodoviária... E ali mesmo decidi que iria para uma cidade do interior, distante, onde eu pudesse me isolar do mundo. Durante a viagem tentei inutilmente dormir, mas só meus olhos permaneciam fechados, a mente era um turbilhão. Via Dário com aquela moça e não conseguia parar de pensar... Quem seria ela? Como se chamava? Era mais bonita? Mais inteligente? Onde a conhecera? Porque não me contou? Onde foi que eu errara? As perguntas iam e vinham em desordem e a mente não descansava.
Algumas  horas depois, acho que o cansaço venceu, e o sono tomou conta. Só acordei quando já chegava no final da viagem e dali eu seguiria para o hotel. O dia já amanhecia lindo, o sol brilhava no horizonte, mas nada combinava com os meus sentimentos. Me sentia, feia, triste, enganada, idiota...
Quando me instalei, após descansar um pouco, encontrei  forças para ligar no trabalho, dar uma desculpa, e pedir para afastar-me por alguns dias.
O hotel também era bonito, a paisagem maravilhosa convidava a uma estadia maravilhosa, mas, inevitavelmente, eu pensava como seria lindo estar com ele ali naquele lugar. Talvez em nossa lua de mel... Tentava afastar estes pensamentos a qualquer custo e passei o dia conhecendo o lugar e procurando não pensar. Meu coração estava pesado, mas eu me apegava a esperança de que tudo ia passar, o tempo me ajudaria.... Desliguei completamente o celular e joguei num canto qualquer, não queria nenhuma relação com o passado e nenhum contato com pessoas. Aqueles dias seriam somente eu e as minhas reflexões.
Quase um mes depois, eu estava me sentindo renovada, pronta para encarar a realidade de cabeça erguida. Era hora de voltar!. Nenhum homem merecia eu me anular para a vida!
Quando cheguei em casa as lembranças tomaram conta e o coração bateu forte, mas não ia enfraquecer agora, respirei fundo e abri a porta.  
Tudo parecia igual, como se nada tivesse acontecido, por alguns segundos meu coração ficou apertado, mas eu sabia que nada estava igual. Eu não era mais a mesma pessoa. Dali pra frente eu iria conviver somente comigo, com a minha vida e tinha que focar nisso... Talvez fazer alguns cursos e me dedicar mais ao trabalho... O tempo iria me ajudar. Nesse período de reclusão, cheguei a conclusão que os homens eram uma grande farsa, mas  ninguém mais iria me enganar, eu nunca mais me deixaria envolver e sofrer por nenhum homem.
Decidi conectar o celular.  Como o previsto, havia muitas mensagens dele. Apesar da curiosidade achei melhor não ler e apagar tudo. Não queria mais confundir minha mente e sofrer. Para mim tudo já estava resolvido.
Voltei a trabalhar na segunda feira seguinte. Alguns recados me esperavam. 
Eu praticamente não ouvia o que me falavam, mas não tinha como ser indelicada com meus colegas. Um dos recados me chamou atenção. Minha amiga e parceira de trabalho, Marina,  me disse que tinha um recado muito sério para mim, que era realmente importante. Eu percebi que ela estava angustiada e sem prestar muita atenção lhe disse: - Pois que fale então. O que você quer me contar, vamos lá.
- Dário perdeu a irmã, ela estava com câncer e fazia tratamento em um hospital próximo a cidade. Ele estava muito triste!
Não escutei o restante, meu impulso foi sair correndo como louca, pedir a Dário que me perdoasse... Meu Deus,como fui injusta, fiz um prejulgamento, havia me precipitado. Deveria ter conversado com ele, ouvir sua explicação, mas não, me permiti julgar apenas por uma cena, que analisando agora, não dizia absolutamente nada, ele apenas passara os braços pelos ombros de uma mulher e juntos riam de alguma coisa que eu, só agora, podia entender.  Provavelmente fosse  para amenizar a tristeza dos seus corações.
Quando finalmente o encontrei, ele me olhou profundamente,  mas não era aquele olhar que conheci, tinha um olhar entristecido e parecia não estar contente com a minha visita. Tinha o semblante fechado.
Era óbvio que não gostou de me ver.
Eu falei primeiro:
- Me perdoa meu amor... 
- Por favor, vamos conversar.
Ele ficou calado por um tempo que me pareceu uma eternidade, não disse uma palavra, apenas pegou seu casaco e saiu. Essa foi a minha resposta, e ficou bem claro pra mim.
Naquele instante senti o peso da minha atitude. Eu perdera o amor da minha vida por minha própria culpa.
Chorei rios de lágrimas, mas já não tinha como voltar no passado.
Eu não confiei nele, minha neurose foi alimentada pelo ciúme e me fez ver tudo errado.
Resolvi deixar o tempo passar, eu ia lutar pelo nosso amor, mas agora não devia forçar nada, esse tempo era importante para nós dois, quem sabe com o tempo ele me perdoasse.
Quase dois meses depois o telefone tocou, era ele. Tinha certeza que tudo ia ficar bem.
Marcamos para conversar, mas na verdade quem mais falou fui eu.
Eu lhe disse que nada justificava minha atitude, mas eu tive meus motivos. E que, sinceramente, tudo o que aconteceu fora uma lição para mim mesma.
Ele sorriu levemente, meio enigmático,  e me disse:
- A gente consegue consertar um vaso quebrado? Mesmo que o colássemos, ficariam as marcas e os vincos do golpe sofrido. Você quebrou a confiança que tínhamos um no outro. Duvidou do meu amor por você e ainda me deixou no pior momento da minha vida. Eu não te contei porque ela não queria que ninguém soubesse, pensava sempre que ia se curar e eu respeitei isso. Mas é difícil consertar nossas vidas somente com  palavras e desculpas.
Eu estou aqui porque, apesar de tudo e, exatamente o oposto do que fez, quero me despedir de você. Você foi muito importante pra mim mas acabou. 
Felicidades.
Me deu um beijo no rosto e se foi.

Em meu íntimo eu sabia que ele nunca mais voltaria!

A vida nos dá lições todos os dias. Um relacionamento só sobrevive se houver confiança. 
Senti um aperto no coração mas entendi que o meu erro fora imperdoável!


sábado, 6 de janeiro de 2018

93° episódio - " Perdão de Deus"


Era um dia quente de verão, mas a tarde se mostrava bela e refrescante e pensei que valia a pena continuar caminhando um pouco mais. Gostava de fazer caminhadas e cuidar da saúde. A pista onde caminhava era cercada por bancos e árvores permitindo uma sensação agradável.
Então, acelerei o passo e continuei em frente. Havia muitas pessoas por ali, mas, uma única pessoa chamou minha atenção.
Foi assim que a vi pela primeira vez... Roseli estava sentada no banco da praça, com as mãos entre as faces, e percebi que chorava discretamente. Notei que tinha uma aparência  cuidada,  e intuitivamente achei que seria bom conversar com ela. Não iria perder mais do que dez minutos, já tinha caminhado o bastante por aquele dia, e quem sabe, eu pudesse ajudar aquela moça, parecia tão frágil...
Sentei-me a seu lado e dei o primeiro passo. 
- Olá...
Ela me olhou com estranheza e voltou a abaixar a cabeça. Eu resolvi insistir.
- Seja o que for que estiver passando, vai se sentir melhor se dividir com alguém...
- Ela levantou a cabeça novamente e disse:
- Quem é você para saber o que é melhor para mim? Deixe-me em paz!
Eu fiquei desconcertada, mas consegui lhe dizer:
- Ok moça, me desculpe, eu só quis ajudar, mas você tem razão, não sei de nada e já estou indo... Fica bem. Levantei-me para ir embora, me sentindo um pouco desconfortável, por ter, de certo modo, invadido a privacidade de alguém.
Quando dei os primeiros passos, ouvi um chamado e parei para olhar para trás.
Era ela, e com um olhar suplicante, dizia em voz alta:
- Eu que peço desculpas, por favor, fique!
Voltei e novamente sentei-me ao seu lado. Ela disse que se chamava Roseli, que estava atravessando um momento muito difícil, pois acabara de saber algo que ia desmantelar sua vida e por isso estava sofrendo muito. Não tinha como compartilhar com ninguém o seu problema, achava que as pessoas não entenderiam.
Eu lhe perguntei se alguém da sua família, não poderia ouvi La, alguém que ela confiasse e pudesse lhe dar algum conforto...
Ela respondeu eloquente que não. Principalmente alguém da família, seria amaldiçoada e julgada pelo resto da vida... Estava em apuros.
Então eu lhe disse, de improviso, com um meio sorriso:
- Bem, nesse caso, só resta a mim, eu não sou da família...
Ela me olhou com gratidão, e contou o que relato a seguir:
Roseli tinha 34 anos, casou-se há doze anos e amava seu marido. Tinha dois filhos ainda pequenos. Seu marido era um bom homem, honesto e trabalhador, porém ”antiquado,  talvez melhor dizer que fosse um homem conservador, com ideias antigas, e por conta disso ela guardava consigo muitos segredos acumulados na sua sede de viver. Nunca havia feito nada que não correspondesse aos padrões normais de comportamento. Mas ela mantinha, guardados dentro de si, desde sempre, desejos ocultos e inconfessáveis... Por isso jamais poderia pensar que um dia estes desejos aflorassem e que fosse viver tudo aquilo... Mas aconteceu.
Há cinco meses conhecera outro homem numa sorveteria, onde costumava, às vezes, tomar um sorvete quando saia do trabalho e, a partir daí,  tudo mudou.
Ele estava parado, na frente da sorveteria, apoiado e sentado em cima da sua moto, chupando um sorvete quando, de repente, lhe sorriu. Ela não saberia explicar porque, mas lhe devolveu o sorriso, o que foi suficiente para ele se aproximar. Era completamente diferente do seu marido, em todos os sentidos; bem humorado, moderno, apaixonado por música... Ele exalava vida e alegria por todos os poros. Gostava da liberdade, sair pelo mundo afora sem hora para voltar e sem correntes para prendê-lo.  Era adorável estar com ele, conversar com ele, sorrir com ele, sonhar com ele...
E nestes sonhos que a sua fantasia buscava, ela se via na garupa da moto, com o vento batendo em seu rosto e apertando seu corpo de encontro ao dele...
Essa fantasia foi crescendo cada vez mais, e já se tornava difícil  disfarçar em casa as vezes que se perdia em seus devaneios, e a sensação de felicidade que sentia alcançar.  Fazia suas obrigações domésticas metodicamente, e só conseguia desconectar estes pensamentos quando brincava e cuidava dos filhos. 
Casualmente, se encontravam as tardes, na sorveteria...
Um dia aconteceu. Ele a convidou para ir com ele... Quando ela lhe perguntou para aonde? 
Ele docilmente lhe respondeu:
- “Para qualquer lugar, onde tenha a brisa do mar...”
Ela sentiu um arrepio por dentro e lhe disse:
- Mas eu não trouxe nada...
Ao que ele respondeu:
- Só preciso de você!
Ela subiu na moto se deixando levar; conscientemente, sabia que estava fazendo uma loucura!
Bem, uma sombra passou pela sua mente... Mas logo desvaneceu;  depois pensaria em algo para se explicar, sabia que seus filhos estariam bem, pois sua sogra morava com ela. Esse pensamento a tranquilizou, mas não queria pensar nisso agora, há muitos anos não se sentia assim, era como se o sonho se materializasse... Ou será que estava sonhando?... Pensou ela sorrindo!
Mas sabia que tudo acontecia realmente e era maravilhoso! Sentia-se livre e feliz! O entardecer estava lindo, convidativo, tudo conspirava para o encantamento que lhe tomava posse e a fazia sentir-se como uma criança, fazendo arte!
Fechou os olhos para sentir o vento tocar em seu rosto e inconscientemente apertou fortemente o corpo dele de encontro ao seu. 
Passaram a noite no mar... nus, brincando com as ondas...
Fizeram amor na orla da praia, com a lua por testemunha...
Ficaram abraçados por horas, na areia.. Sujos e lambuzados de amor...
E ela tinha a mesma sensação de sempre, era surreal...
Quando voltou para casa, se sentia estranha, e com uma pontada de culpa; a única coisa que lhe ocorreu dizer foi que teve um mal súbito, passara a noite no hospital e que não teve como se comunicar, mas finalizou que agora estava tudo bem e depois de abraçar as crianças, apressou-se em ir para o seu quarto. Era uma mentira com um algo de verdade, pois realmente se sentia estranha, tinha dentro de si um misto de emoções que não sabia explicar, mas uma coisa era certa, não poderia mais ver aquele homem, o seu “sonho”  tinha que ser esquecido. 
Tudo o que aconteceu fora apenas um desejo realizado, que ficaria somente nas lembranças.
E, curiosamente, ela entendia a aventura desta noite apenas como uma fantasia e um sonho, não estava apaixonada por outro homem, amava seu marido, foi somente um deslize de comportamento, estava arrependida, e, além disso, tinha uma vida tranquila e pretendia continuar a sua rotina de esposa e mãe de dois filhos. 
Não voltou mais a sorveteria, e procurou se dedicar mais a família. 
Mas aquela noite lhe cobrou um preço alto...
Acabara de sair da clinica e teve a confirmação. Estava grávida!
Grávida de outro homem que não era o seu marido! Um quase desconhecido de quem ela só sabia o nome. Seu mundo despencara! Também não era justo enganar seu marido... Chegou a pensar em abortar, mas não poderia fazer isso com seu filho... A sua consciência lhe cobraria a vida inteira. 
Não sabia o que fazer... Andou por horas, desolada, sem querer voltar pra casa e sentou-se finalmente ali, onde eu a conheci.
Realmente era um grande conflito para essa mulher. Eu não encontrava palavras, apenas lhe dei um abraço, e lhe pedi para ter calma. Tudo de algum modo se ajustaria.
Passei a telefonar para Roseli regularmente para saber dela, e combinamos de nos encontrar para ir a igreja. Era muito importante  conversar com Deus, e se fortalecer espiritualmente. Ela precisava de forças. Entre um momento e outro durante a oração eu percebia suas lágrimas e também rezei por ela. Pedi que  Deus a perdoasse e lhe indicasse o caminho. Ela era uma alma boa, sensível, apenas teve uma fraqueza, até inocente, eu diria.
O tempo foi passando e Roseli não conseguia contar nada a ninguém, sabia que o filho não era do marido, mas não encontrava meios para assumir isso.  Um dia ela contaria a verdade, não ia carregar essa mentira para o resto da vida... A gravidez foi difícil, com muitas intercorrências, talvez devido ao seu estado emocional, e o parto foi muito complicado.
Eu estava com ela, quando o médico entrou no quarto e lhe disse:
Sinto muito senhora, não conseguimos salvar a criança!. Foi um parto de alto risco para ambos... Eu só senti o aperto forte de mãos que ela me deu, para logo cair em prantos!. Por um breve momento me olhou e disse: - Foi o meu castigo!
Eu lhe pedi que não falasse mais isso, que tudo tinha os seus porquês, que o mais importante agora era recuperar-se e voltar para casa. Ela se calou, bastante triste. 

No caminho de volta para casa, fiquei pensando em tudo que aconteceu, essa trama inexplicável de chegadas e partidas que a vida nos proporciona, esse emaranhado de fios que atam e desatam conforme a vontade de Deus.
Mas, lá em meu íntimo, eu acredito que Ele decidiu esta estória como tinha que ser, talvez para que Roseli resgatasse a sua vida e enterrasse para sempre o seu segredo. O tempo daria conta disso.
Ele a perdoou!  Estava tudo certo!














quinta-feira, 6 de abril de 2017

92º episódio - ¨Ainda te amo¨



Ela estava um pouco ¨alta¨.
Seu subconsciente lhe dizia que era hora de parar de beber, pois estava no limite, tinha que manter o equilíbrio, pois estava num lugar publico e não era seu perfil dar vexame nas festas. Riu de si mesma e,  nesse momento, distraidamente desequilibrou-se e caiu no chão.  Seu estado mental, já confuso,  não evitou o constrangimento que sentiu e tratou de levantar-se para sair de cena. Era melhor ir ao banheiro lavar o rosto e tentar recompor-se. 
Mas, o gesto foi mais difícil do que imaginara...
Mal conseguia ficar em pé, ainda mais dar um passo...
Buscou por algum rosto conhecido, mas não conseguia identificar ninguém. Estava muito confusa.
Um desconhecido teve uma atitude solidária e percebendo a cena, se apressou em ajudá-la. Ela se submeteu para não passar mais vergonha e lhe pediu que, por favor,  a acompanhasse até o banheiro.
Ficou bastante tempo fazendo uma ¨faxina¨ em si mesma, e lavou varias vezes o rosto com água fria, lhe dando uma sensação de bem estar.  Mas sentiu que precisava vomitar toda a bebida acumulada no organismo porque o seu fígado não estava acostumado, e  demonstrava isso claramente com muita náusea e dor de cabeça.  Sabia que tinha se excedido, mas agora não tinha mais jeito, tinha que enfrentar a situação e tentar melhorar. 
Apoiou-se na parede com cuidado e fez o que o  seu corpo pedia. Quase uma hora depois,  finalmente,  sentiu  que estava bem melhor, e que já poderia encarar as pessoas e os olhares curiosos que certamente a esperavam. Saiu com uma aparência mais serena e de rosto lavado, parecia ainda mais bonita.
Abriu  a porta, decidida, quando notou  alguém, de braços cruzados, a esperando  com o mais belo sorriso que já vira em toda sua vida.....
E, entre surpresa e envergonhada, tentou desviar o rosto, mas ele estendeu a mão, e lhe disse sorrindo carinhosamente:
- Esta melhor? Parece que a bebida não gostou muito de você certo?
Ela sorriu e também lhe estendeu a mão, pedindo desculpas. Mas ele a interrompeu, disse que todo mundo, em algum momento, na vida, já tomara um porre, e são coisas que acontecem.
Perguntou se poderiam sentar-se para conversarem um pouco, porque ele estava sozinho na festa e não conhecia ninguém até aquele momento.
Ela disse que pretendia ir embora,  pois já estava tarde, que todos os seus conhecidos já deviam ter ido,  mas como ele estava sendo muito gentil, não haveria problema em estender o seu tempo por mais meia hora... mas em tom de brincadeira lhe disse que iria impor uma condição, não beberia mais nada esta noite.
Uma hora depois ainda estavam conversando e Natali descobriu que tomaria mais cem porres daqueles se fosse necessário, somente para conhecer novamente aquele homem. Marcos era encantador. Foram embora juntos e fizeram uma boa amizade.
Tinham uma química perfeita e pareciam duas crianças.
Um mês depois aconteceu o beijo, inevitavelmente, e o romance fluiu naturalmente.
Viam-se praticamente todos os dias, e seis meses depois já falavam em casamento pois Marcos falava muito no  sonho que acalentava  em ser pai;  queria muitos filhos, encher a casa de pequerruchos fazendo algazarra pela casa, preenchendo seus dias.... e como já tinha quase quarenta anos, não queria perder mais tempo.
Natali nunca pretendeu ter  filhos, mas não queria quebrar o encanto de Marcos, e sempre entrava no clima, sem se aprofundar na conversa... Se bem que, amava tanto esse homem, que sempre se  poderia reconsiderar, rever seus conceitos  e  ter um  filho... quem sabe... Mas isso era um assunto pra depois, por agora, a sua felicidade estava quase completa, encontrara o homem da sua vida.
Conforme o previsto, o casamento aconteceu  quando completaram um ano de namoro e  tudo transcorria com muita felicidade e amor entre o casal.  Eram felizes e se completavam. 
Mas, curiosamente, dois anos depois, eles ainda não tinham filhos.
Natali não entendia muito bem,  porque nunca evitou a gravidez e sentia-se muito bem de saúde, tanto quanto seu marido. Não que se importasse tanto, mas pelo desejo de Marcos que as vezes tocava no assunto, Resolveu então consultar um médico e se tranquilizar.
Seus exames deram todos normais, e pensou então, que estava sendo tola, pois os filhos viriam, na hora certa.
Mas não foi assim, três anos depois, nada aconteceu de novo,  e neste tempo já era visível uma sombra subtendida no casamento por conta disso, e uma sensação sempre presente de que o sonho de Marcos fora destruído... por ela... Não fora capaz de lhe dar o seu tão sonhado filho...
Sentia-se triste e depois de pensar muito,  achou que era melhor se separar, deixar Marcos livre para conhecer outra mulher que lhe desse filhos, pois ela já não tinha esperanças. Sabia como isso era importante para ele.
Sofreu bastante, ele era seu grande amor, mas arrumou suas malas, decidiu por deixar um carta, no quarto, em cima da cama e, decididamente, com os olhos marejados, se foi, sem recuar.
Mudou-se para outra cidade e nunca mais se comunicou com Marcos.
Três anos depois, conheceu Arthur e refez sua vida. Não era o amor que sentia pelo seu ex marido, mas assim como decidiu para ele outras possibilidades, ela também teria que refazer sua vida e viver o presente.
Engravidou logo no início da relação.
Natali questionou muitas vezes os arranjos do destino, e preferiu pensar que era assim que tinha que ser, de repente ela não era a mulher para Marcos... quem sabe... Talvez nunca tivesse a resposta... Era melhor deixar o passado  no lugar dele, lá atrás.
O tempo passou, e nasceu sua filha linda e saudável.
Não tinha como evitar o desejo em seu coração que essa criança fosse filha de Marcos, e se culpava por isso, pois reconhecia em Arthur um ótimo marido e pai para sua filha.
Mas o destino ainda não tinha terminado a trama que armara para ela e, casualmente, quase dois anos depois, encontrou-se novamente com Marcos.
Ele estava de viagem na cidade fazendo uma representação de produtos em um supermercado  que fora inaugurado há pouco tempo. E ela estava ali, com uma sacola na mão, olhando os produtos, com sua filha sentada no carrinho...
Parecia mentira, era muita coincidência... ou  será que ele viera atrás dela? Mas, pensando bem, isso era impossível, ela não deixara rastro nenhum. Imediatamente tirou estes pensamentos da cabeça, eles não tinham contato há muitos anos... Era mais provável que fosse apenas  uma  coincidência.
Então ele a viu.... e olhos nos olhos permaneceram assim, estáticos por alguns momentos que lhe parecera  uma eternidade... Pensou em sair correndo, mas não tinha mais como fugir, então desviou o olhar, e quando ele a cumprimentou, achou que devia responder educadamente, para evitar maiores constrangimentos.
-  Por que?
 Foi a pergunta que ele fez.  
- Não era preciso ter me deixado.  
Olhou então  para o carrinho, completando:
- É linda sua filha.
Natali levantou a cabeça e lhe disse:
- Eu deixei uma carta explicando tudo.
 Foi tudo que conseguiu dizer.
- Eu... não tenho filhos...
Ele disse. Ela não entendeu e lhe perguntou:
- Por quê?
- Eu não posso ter filhos, o problema não era você...
O mundo desabou para Natali.
Não era possível! Meu Deus! O destino estava brincando com ela de uma forma cruel. Mas como poderia saber? 
Tentou segurar as lágrimas, mas não conseguiu.
Achou melhor se afastar e digerir com calma tudo aquilo que estava acontecendo. 
Ele anotou o telefone num papel,  entregou a ela, e com tristeza lhe disse: Está em suas mãos, só você pode reescrever essa estória.
Ela pegou o papel, meio trêmula, e guardou na carteira, depois saiu, agarrando sua filha, apressada, sem olhar para trás, tentando absorver o que ouvira.
Os dias se arrastavam lentamente, chegou a pensar em jogar o papel fora várias vezes, mas era como um tormento, lhe aguçando a mente e o coração, e  não conseguia.
Arthur percebeu sua mudança e pediu uma explicação, ela guardou segredo por um tempo, mas sentia-se culpada e decidiu então lhe contar a verdade. Arthur merecia isto.
Falou tudo, o motivo da separação, o encontro no supermercado, a verdade dos fatos. Tudo. Sentiu-se aliviada.
Ele permaneceu em silêncio e ela procurou respeitar isso.
Ficara calado pelo resto do dia, até a noite, quando lhe dirigiu a palavra:
- Vou te dar a liberdade,  porque acho que você não errou comigo, foi sincera,  e sinto que você ainda ama esse homem.
Ela olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas e lhe disse:
- E se a gente tentar superar isso, você pode me ajudar...
Ele disse:
- Não. Sentimentos tão verdadeiros não tem como resolver assim, fica sempre uma situação mal resolvida, incompleta. Faz todo mundo sofrer.
Você me deu uma filha linda e te agradeço por isso, só quero vê-la sempre e estar por perto. Eu vou reconstruir minha vida, fique tranquila. O mundo não acabou.
Ela abraçou Arthur com muita gratidão e lhe disse:
- Há muitas formas de amar, eu também te amo! Obrigada!

No dia seguinte correu para o telefone.
E Marcos somente respondeu do outro lado.
- Estou te esperando... há sete anos!
















sábado, 13 de agosto de 2016

91º episódio - "O amor também é liberdade"


Meire era uma mulher bonita. Tinhas os traços suaves e o corpo bem feito,  poderia ser uma pessoa feliz, mas  carregava muitos tormentos dentro de si,  o que fazia de si mesma uma pessoa difícil, infeliz.
Tinha um relacionamento há quatro anos com Osvaldo,  um homem tranqüilo,  centrado, e totalmente voltado para o trabalho e para a família. Meire se dizia muito apaixonada, ou melhor, tinha um amor doentio por ele, e justificava as suas atitudes absurdas com esse argumento, o amor.
Com o tempo as discussões eram freqüentes, e Osvaldo  praticamente já não tinha mais vida social, tudo para Meire, era motivo de briga.
Ele não podia mais conversar com os amigos homens, porque ela dizia que estavam falando de mulher. Também não podia mais conversar  com ninguém  do sexo feminino,  porque ela achava que ele estava se insinuando para as elas. Chegou a criar situações embaraçosas por conta disso. Em uma ocasião um casal de amigos dos tempos de solteiros,  vieram  visitá-los, e Osvaldo,  unicamente por educação e cavalheirismo, ofereceu um refresco  primeiramente para a esposa do amigo, foi motivo suficiente para Meire achar que ele estava interessado na moça e o clima ficou muito ruim.
Numa outra vez, naqueles dias que tudo acontece, fora fazer uma visita a mãe dela, e o carro quebrou na estrada,  e para ajudar ele esquecera o celular em casa. Era necessário que  ele pedisse ajuda, e deu sinal para um carro que vinha na mão contrária. Quando  o motorista parou, percebeu que era  uma moça bem jovem ao volante, na verdade era quase uma menina, que foi muito solícita e ofereceu o celular para ele, pedir algum socorro. Meire que aguardava e observava de dentro do carro, interpretou tudo errado e saiu do carro imediatamente avançando contra a menina, lhe tomando o celular e criando uma cena lamentável,  totalmente sem razão de ser.
E assim, estes conflitos foram virando rotina.
Nos últimos meses, ela começou a ir buscá-lo na saída do trabalho,  todos os dias, e como, ela mesma dizia, à demarcar seu território, mas a verdade é que ela passara a controlar os passos do marido.
Ele começou a se sentir sufocado e os conflitos passaram a ser constantes.
Osvaldo realmente gostava de Meire, mas não suportava mais suas crises.
A vida do casal  virou um  inferno,  o lar deles já não tinha mais paz. Chegou a lhe pedir que ela procurasse ajuda profissional, mas ela se recusava, achava que era normal ter ciúmes do marido,  e que apenas estava cuidando do que era seu, não conseguia perceber que estava provocando o fim do relacionamento, e o stresse que tomava conta de ambos.
Meire estava doente.... Mas não doente como ela acreditava, por amor, na verdade,  estava  tomada por uma psicose , um sentimento de posse egoísta, insensato, que somente iria destruir seu casamento. E assim aconteceu.
Depois de tantas brigas e sofrimento, Osvaldo pediu a separação. Meire chorou, se descabelou, disse que ele não poderia deixá-la, mas nada adiantou. Osvaldo realmente havia chegado ao limite da paciência. Era um homem correto, não merecia viver assim, arrumou suas malas e saiu de casa, mas ainda teve a atenção de lhe dizer que quando ela se acalmasse, ele mandaria notícias.
Os dias para Meire foram lentos e vazios, a dor era dilacerante. Tinha esperanças que ele voltasse,  e pensava que, se isso não acontecesse,  iria procurá-lo, lhe  pedir perdão, dizer-lhe que iria mudar,  ser uma nova mulher, e tinha certeza que reconstruiriam suas vidas.
Mas não foi tão fácil assim, Osvaldo não deixou rastros. Mudou-se para outra cidade e não deixou endereço.
Oito meses depois, ela recebeu um telefonema, era Osvaldo, ele dizia que estava voltando. Ela quase morreu de felicidade, e finalmente, achou que ali retomava seu casamento.
Mas quando ele chegou, ela percebeu que ele não trazia nada, nem uma mala de viagem, apenas  lhe dava as boas vindas, e dizia que precisavam conversar.
Quando ele entrou e sentou-se  no sofá da sala com cerimônia, ela percebeu que algo estava errado, Osvaldo não estava natural, como se aquela não fosse a casa dele.
Ele disse com suavidade e  cuidado:
- Quero o divórcio.
Meire estremeceu, as pernas bambearam, o coração pulsou descompassado.
Não podia ser verdade, estava perdendo definitivamente o homem da sua vida.
Nãaaaao!  Não iria aceitar.  Jogou se para ele, abraçou-o  forte, com desespero.  Pediu uma chance para eles, pediu perdão pela conduta do passado.
Ele a ouvia, triste, prostado, em silêncio.
Até que, finalmente,  lhe disse:
- Sinto muito Meire,  acabou.  O passado não volta.
Ela ficou desesperada, gritou então que não lhe daria o divórcio por nada neste mundo!
Ele não discutiu, simplesmente virou as costas e se foi.
O processo foi litigioso, longo, desgastante e difícil, mas ela quis assim, não havia outro jeito.
Oito anos depois, Osvaldo se tornara uma sombra no passado, e Meire conheceu outra pessoa.
Voltava a se envolver com alguém, e estava muito feliz,  ma só agora percebia  que era uma felicidade diferente, sem cobranças, sem controle, sem  peso. Vivia um amor sem amarras, sem brigas,  e curiosamente, estavam cada vez mais juntos.  Aprendera muito com o passado. Osvaldo lhe dera uma grande lição de vida quando a deixou. Ninguém é dono de ninguém, e nada neste mundo prende uma pessoa se ela não quiser,  e,  principalmente,  aprendeu que: “o amor também é liberdade” .
Agora estava madura e pronta para ser feliz. 
A vida nos dá muitas lições,